Experiência venezuelana em Roraima

da agência comunitária em Ka Ubanoko ao confinamento da Operação Acolhida

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1980-85852503880003304

Palavras-chave:

comunidade , humanitarismo, abrigamento, migração venezuelana

Resumo

Este artigo propõe compreender o embate entre duas formas de acolhimento vivenciadas por migrantes venezuelanos na cidade de Boa Vista (RR). De um lado, encontram-se os processos autônomos de gestão da vida, cujo ponto de partida é a ocupação Ka Ubanoko, e, do outro, as formas institucionalizadas de controle, manifestas na política de abrigamento da Operação Acolhida. Nossa hipótese é a de que a Operação tem atuado como dispositivo de desarticulação dos vínculos comunitários e das estratégias de participação cidadã construídas pelos venezuelanos. Identificamos que a resposta humanitária estabelece diferentes circuitos de mobilidade, voluntários ou não, e de espera, produzindo hierarquias e conflitos interétnicos, ao passo que os migrantes tentam resistir à precarização permanente firmando um compromisso com o bem comum.

Biografia do Autor

  • Sofia Cavalcanti Zanforlin, Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, Brasil

    Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), professora e
    pesquisadora do programa de pós-graduação da universidade Federal de Pernambuco – UFPE, e coordenadora
    dos grupos de pesquisa Migra e NosOtras – UFPE.

  • Julia Afonso Lyra , Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

    Jornalista e Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ (UFRJ).

  • Raíra Pereira Tavares, Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, Brasil

    Gestora ambiental (IFPE) e Geógrafa (UFPE), Mestranda no Programa de Pós-graduação em Geografia da UFPE.

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Publicado

2025-06-09

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Artigos

Como Citar

Zanforlin, S. C., Afonso Lyra , J. ., & Pereira Tavares, R. . (2025). Experiência venezuelana em Roraima: da agência comunitária em Ka Ubanoko ao confinamento da Operação Acolhida. REMHU, Revista Interdisciplinar Da Mobilidade Humana, 33, e332035. https://doi.org/10.1590/1980-85852503880003304

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