Experiência venezuelana em Roraima
da agência comunitária em Ka Ubanoko ao confinamento da Operação Acolhida
DOI:
https://doi.org/10.1590/1980-85852503880003304Palavras-chave:
comunidade , humanitarismo, abrigamento, migração venezuelanaResumo
Este artigo propõe compreender o embate entre duas formas de acolhimento vivenciadas por migrantes venezuelanos na cidade de Boa Vista (RR). De um lado, encontram-se os processos autônomos de gestão da vida, cujo ponto de partida é a ocupação Ka Ubanoko, e, do outro, as formas institucionalizadas de controle, manifestas na política de abrigamento da Operação Acolhida. Nossa hipótese é a de que a Operação tem atuado como dispositivo de desarticulação dos vínculos comunitários e das estratégias de participação cidadã construídas pelos venezuelanos. Identificamos que a resposta humanitária estabelece diferentes circuitos de mobilidade, voluntários ou não, e de espera, produzindo hierarquias e conflitos interétnicos, ao passo que os migrantes tentam resistir à precarização permanente firmando um compromisso com o bem comum.
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